A situação atrapalha a rotina de trabalho, principalmente de policiais civis que ficam com a responsabilidade de vigiar os detentos e acabam sofrendo desvio de funções.
É o que acontece na cadeia pública de Arapongas. O local tem capacidade para comportar 40 detentos, mas abriga 155. O problema gera também fugas de presos. Foram quatro desde janeiro deste ano. Na última delas, no dia 11 passado, dois detentos conseguiram pular o muro do local. Apenas um foi capturado.
"É um problema estrutural. O prédio foi construído na década de 60. Há buracos, tijolos fora do lugar. É um prédio saturado, com uma superpopulação de detentos e apenas 14 servidores. Tudo isso é um grande facilitador de fugas", relata Maristela Cristina Blum, chefe e subchefe da cadeia pública de Arapongas.
Em março, a Defensoria Pública do Paraná entrou com uma ação contra o governo estadual para interditar a cadeia. A ação foi elaborada pelo Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da defensoria e visava chamar a atenção para a superlotação e a falta de higiene no local. Contudo, a Justiça, por meio do juiz da Vara da Fazenda Pública de Arapongas, Evandro Luiz Camparoto, negou a liminar. Na decisão, o magistrado afirmou que a cadeia pode esperar o trâmite do processo normalmente.
De acordo com Maristela, melhorias na estrutura do prédio é um pedido antigo da administração da cadeia. "Nós já chamamos a atenção para o problema muitas vezes. Muita coisa já aconteceu aqui, fugas, problemas com falta de higiene", desabafa.
Em Rolândia, o cenário é parecido. São 97 detentos em um local com capacidade para 48. Segundo o delegado Bruno Silva Rocha, a situação é insustentável para os profissionais. "Os agentes não têm treinamento para exercer essa função. Aqui, nós temos um terço do que seria necessário para a investigação e ainda preciso deslocar um efetivo grande para cuidar dos detentos."
De acordo com o delegado, a presença dos detentos que já foram julgados fazem das cadeias uma bomba relógio para o Estado. "A grande maioria já foi julgada, condenada, eles estão aqui de forma ilegal. Sem esses presos, ficaríamos com um terço dos detentos que abrigamos hoje. Seria o ideal."
Outra cidade que vive situação semelhante é Maringá. No começo deste mês, após fazerem um agente refém, 18 detentos fugiram pelo teto do local. No momento da fuga, havia 80 detentos na cadeia. A capacidade é para 16.
Os problemas se repetem. Em Ibiporã, são 155 detentos espremidos em um espaço para 35. Segundo o delegado Vitor Dutra de Oliveira, além da superlotação, os policias enfrentam dificuldades para controlar os detentos, devido à proximidade da cadeia com a rua.
"Isso facilita a aproximação das pessoas. Celulares são constantemente recuperados dentro das celas. São pessoas que arremessam por cima da carceragem", conta.
O delegado também sofre com a falta de servidores. "São cerca de dez funcionários, é muito pouco para uma cadeia com 155 detentos. Ainda temos de cuidar do atendimento da população e das investigações".
Em Cambé, a capacidade é para abrigar 40 detentos, contudo, atualmente há 200 no local. A cidade sofreu uma das maiores fugas deste ano registradas no Paraná. Foram 31 detentos que cavaram um buraco e conseguiram fugir do local. Apenas três foram recapturados.
Soluções
A solução para o problema das cadeias públicas do Estado passa pela construção de novas cadeias e pelo desafogamento dos profissionais que atuam nesses locais. "É muita gente. O ideal seria não termos chegado nessa superlotação. Mas, agora, precisamos construir novos locais para esses presos provisórios se instalarem", relata Vitor Dutra.
Bruno Silva, delegado de Rolândia, vai além e cita os problemas financeiros das delegacias. "As vezes temos de passar os nossos próprios recursos para a manutenção do local. Isso não poderia acontecer. Além disso, a contratação de um efetivo maior também seria importante para resolver a médio prazo a situação."
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen), para saber as soluções que estão sendo pensadas para os problemas apontadas na reportagem, porém, até o fechamento deste texto, não obteve resposta.
Danilo Brandão - Redação Bonde
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