Da forma como o sistema foi concebido, não vejo outro futuro para os orelhões
senão serem peças de museu." Com esta declaração, o professor de Engenharia
Elétrica e Telecomunicações da Unopar, Mauro Borges, reforça a
imagem de que os aparelhos de telefonia pública, que completam 40 anos em 2012,
estão com os dias contados. Segundo os dados da Sercomtel, companhia telefônica que opera o serviço em Londrina, em 2007 a venda de cartões telefônicos gerou uma receita de R$ 6 milhões para a empresa. Em 2011, o valor caiu para R$ 2 milhões. Hoje representa cerca de 1% do faturamento da companhia.
A quantidade de créditos utilizados no período segue o mesmo caminho. No ano de 2007 foram "queimados" (termo utilizado pelos técnicos do setor) 52 milhões de créditos. No ano passado, foram 15 milhões de créditos.
O presidente da Sercomtel, Régis Tavares, confirma que o serviço não está passando pelos melhores dias. "Financeiramente não é rentável. O sistema de telefonia pública não se paga", disse.
Além da queda acentuada no número de usuários, que diminui a arrecadação, o vandalismo é outro fator prejudicial ao serviço de telefonia pública. A empresa contabilizou R$ 17,5 mil em gastos para recuperar aparelhos danificados em 2011. Até abril deste ano, esses gastos já acumulam R$ 11 mil.
A onipresença dos aparelhos de telefonia celular praticamente sepultou o serviço de telefonia pública. "Com tarifas cada vez mais competitivas, as empresas que trabalham com as duas modalidades acabam sofrendo com uma espécie de 'canibalização', com o celular engolindo o telefone público", explicou o professor de Telecomunicações da Unopar, Mauro Borges.
No entanto, quem anda pelas ruas de Londrina pode até se espantar com a quantidade de telefones públicos disponíveis e também com a quantidade de pessoas que ainda os usam. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabelece que as empresas de telefonia ofereçam quatro orelhões para cada mil habitantes. Em Londrina, essa oferta é de 7,5 telefones públicos para cada mil habitantes, segundo a Sercomtel.
Prático e econômico
Em apenas 10 minutos, a reportagem do JL identificou pelo menos quatro usuários do sistema, nas proximidades da rua Rio de Janeiro, esquina com o Calçadão. A aposentada Maria do Rosário tem sempre um cartão telefônico à mão. "Uso o orelhão porque não sei mexer com celular. Além disso, eu gosto porque é muito prático e econômico também.” Na contramão da tendência, Maria afirma, categoricamente, que não tem um aparelho móvel por opção. “Toda a vida gostei de orelhão e não vou deixar de usar.”
Nem todos os usuários, porém, mantêm essa visão "romântica". Partindo para o lado mais prático do uso do orelhão, Edson Almeida prefere utilizar os telefones públicos para não esgotar os créditos do celular
Para a vendedora Márcia Regina Antônio, o orelhão "estava no lugar certo e na hora certa". Com a bateria do telefone móvel descarregada, coube ao telefone público a tarefa de completar a chamada. "É sempre bom ter um orelhão por perto. Se você estiver falando com alguém, algo importante, e acontece o que aconteceu comigo, de a bateria acabar, ter um orelhão por perto é sempre muito bom", comentou.
A auxiliar educativa Zilda Batista de Almeida também estava falando ao telefone público como substituto do celular. "Meus créditos acabaram e eu precisava ligar para o meu irmão. Na emergência, usei o orelhão", contou.
Futuro incerto
Desde que ultrapassou a meta nacional, a Sercomtel não instala novos equipamentos em Londrina. Segundo o presidente da empresa, Régis Tavares, o que ocorre é o remanejamento dos telefones para bairros que apresentam uma grande demanda. "O Residencial Vista Bela, por exemplo, está em franca expansão. Lá estamos realocando aparelhos que estavam instalados em locais onde a utilização era baixa. Por termos uma grande quantidade de orelhões instalados, é possível ter esse conforto de trocar os equipamentos de lugar", explicou.
Para que o tempo de vida útil do sistema de telefonia pública se estenda, várias opções estão sendo estudadas. "Estive em uma reunião, semana passada, com técnicos da Anatel e discutimos as possíveis alternativas para o setor. Uma delas é a 'chamada patrocinada', na qual o usuário pode fazer uma chamada gratuita, desde que ouça uma mensagem publicitária antes que a ligação seja completada", contou o presidente da Sercomtel
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