sábado, 2 de junho de 2012

Com futuro incerto, orelhões funcionam como “quebra-galho” na falta do celular


Gilberto Abelha / Jornal de Londrina / Em Londrina, maioria faz uso do orelhão quando acabam os créditos ou a bateria do celularDa forma como o sistema foi concebido, não vejo outro futuro para os orelhões senão serem peças de museu." Com esta declaração, o professor de Engenharia Elétrica e Telecomunicações da Unopar, Mauro Borges, reforça a imagem de que os aparelhos de telefonia pública, que completam 40 anos em 2012, estão com os dias contados.
Segundo os dados da Sercomtel, companhia telefônica que opera o serviço em Londrina, em 2007 a venda de cartões telefônicos gerou uma receita de R$ 6 milhões para a empresa. Em 2011, o valor caiu para R$ 2 milhões. Hoje representa cerca de 1% do faturamento da companhia.
A quantidade de créditos utilizados no período segue o mesmo caminho. No ano de 2007 foram "queimados" (termo utilizado pelos técnicos do setor) 52 milhões de créditos. No ano passado, foram 15 milhões de créditos.

O presidente da Sercomtel, Régis Tavares, confirma que o serviço não está passando pelos melhores dias. "Financeiramente não é rentável. O sistema de telefonia pública não se paga", disse.
Além da queda acentuada no número de usuários, que diminui a arrecadação, o vandalismo é outro fator prejudicial ao serviço de telefonia pública. A empresa contabilizou R$ 17,5 mil em gastos para recuperar aparelhos danificados em 2011. Até abril deste ano, esses gastos já acumulam R$ 11 mil.

A onipresença dos aparelhos de telefonia celular praticamente sepultou o serviço de telefonia pública. "Com tarifas cada vez mais competitivas, as empresas que trabalham com as duas modalidades acabam sofrendo com uma espécie de 'canibalização', com o celular engolindo o telefone público", explicou o professor de Telecomunicações da Unopar, Mauro Borges.

No entanto, quem anda pelas ruas de Londrina pode até se espantar com a quantidade de telefones públicos disponíveis e também com a quantidade de pessoas que ainda os usam. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabelece que as empresas de telefonia ofereçam quatro orelhões para cada mil habitantes. Em Londrina, essa oferta é de 7,5 telefones públicos para cada mil habitantes, segundo a Sercomtel.
Prático e econômico

Em apenas 10 minutos, a reportagem do JL identificou pelo menos quatro usuários do sistema, nas proximidades da rua Rio de Janeiro, esquina com o Calçadão. A aposentada Maria do Rosário tem sempre um cartão telefônico à mão. "Uso o orelhão porque não sei mexer com celular. Além disso, eu gosto porque é muito prático e econômico também.” Na contramão da tendência, Maria afirma, categoricamente, que não tem um aparelho móvel por opção. “Toda a vida gostei de orelhão e não vou deixar de usar.”

Nem todos os usuários, porém, mantêm essa visão "romântica". Partindo para o lado mais prático do uso do orelhão, Edson Almeida prefere utilizar os telefones públicos para não esgotar os créditos do celular. "Tenho um plano de celular que tem desconto para ligações para telefones fixos. Mas quando tenho de ligar para muitos números, o orelhão acaba sendo mais barato", explicou. "Não costumo comprar cartões de telefone público com muita frequência, geralmente um a cada dois, três meses. Mas quando o crédito do celular acaba, ou em caso de outras necessidades, procuro sempre ter um cartão telefônico.”

Para a vendedora Márcia Regina Antônio, o orelhão "estava no lugar certo e na hora certa". Com a bateria do telefone móvel descarregada, coube ao telefone público a tarefa de completar a chamada. "É sempre bom ter um orelhão por perto. Se você estiver falando com alguém, algo importante, e acontece o que aconteceu comigo, de a bateria acabar, ter um orelhão por perto é sempre muito bom", comentou.

A auxiliar educativa Zilda Batista de Almeida também estava falando ao telefone público como substituto do celular. "Meus créditos acabaram e eu precisava ligar para o meu irmão. Na emergência, usei o orelhão", contou.

Futuro incerto

Desde que ultrapassou a meta nacional, a Sercomtel não instala novos equipamentos em Londrina. Segundo o presidente da empresa, Régis Tavares, o que ocorre é o remanejamento dos telefones para bairros que apresentam uma grande demanda. "O Residencial Vista Bela, por exemplo, está em franca expansão. Lá estamos realocando aparelhos que estavam instalados em locais onde a utilização era baixa. Por termos uma grande quantidade de orelhões instalados, é possível ter esse conforto de trocar os equipamentos de lugar", explicou.

Para que o tempo de vida útil do sistema de telefonia pública se estenda, várias opções estão sendo estudadas. "Estive em uma reunião, semana passada, com técnicos da Anatel e discutimos as possíveis alternativas para o setor. Uma delas é a 'chamada patrocinada', na qual o usuário pode fazer uma chamada gratuita, desde que ouça uma mensagem publicitária antes que a ligação seja completada", contou o presidente da Sercomtel

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