sexta-feira, 21 de março de 2014

Apaixonados por avião, pai e filho morrem em acidentes semelhantes

A queda de um avião agrícola em Redenção (PA), na terça-feira (11), matou Sernai Giansante, de 55 anos. Paranaense de Primeiro de Maio, no norte do Paraná, ele morreu em um acidente muito semelhante ao que matou o filho "Sernaizinho", em 2008. Ambos trabalhavam com aviões pulverizadores em grandes lavouras.

"Os dois só falavam em aviação. Toda vez que sentavam juntos, conversavam sobre os modelos, sobre aeromodelismo, sobre o trabalho. Eram, acima de tudo, melhores amigos", afirma Flavia Giansante, filha de Sernai.

Segundo Madalena Frederico, viúva de Sernai Giansante, os dois, desde pequenos, já sonhavam em controlar o manche de aeronaves. O pai brincava com miniaturas de aviões, ainda na zona rural de Primeiro de Maio. Mesmo criado em família de agricultores, em sítio longe dos grandes centros, ele sonhava em ser piloto. A vida difícil e simples, porém, o fez deixar o desejo de lado.

"Parece que o Sernaizinho tinha ainda mais paixão por avião do que o pai. Desde bem pequeno, ele já vivia olhando para o céu, desenhava aviões para tudo que é lado, sempre fazia aviõezinhos de papel, pulava do telhado, que era baixo, com o guarda-chuva, igual em filmes", conta Madalena.

Flavia Giansante também lembra que, durante a infância, o irmão dividia o tempo entre brincar com ela e os aviões. "Todos os cadernos da escola tinham algum avião rabiscado. Ele queria pôr asa em tudo. Lembro que, certa vez, tentou colocar asas na bicicleta com uns panos de uma tia. O Sernaizinho vivia para isso".

Sernai Filho convenceu os pais, ao sair do colégio, com 17 anos, que não iria fazer faculdade. Seguiria para uma escola de pilotos para viver do que gostava. "Para voar não precisa entrar na universidade", lembra a mãe do discurso do filho. Em 1999, Sernaizinho ingressou para o Aeroclube de Londrina, a 68 quilômetros da cidade natal.

O jovem se formou, enquanto o pai, movido pela coragem do filho, comprou um avião para pilotar informalmente pela região de Primeiro de Maio.

A paixão conjunta levou pai e filho ao Aeroclube de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais no Paraná, onde fizeram, praticamente na mesma época, curso de aviação agrícola. Formados, eles passaram a viajar bastante para conseguirem trabalhos como pilotos agrícolas.

Sernai Filho voltava de um trabalho em Dom Aquino (MT) para ajeitar os últimos preparativos para o casamento, marcado para dois meses depois. Estava radiante, relembra a mãe, com a chance de formar uma família. A realização, porém, terminou em área próxima ao quintal de casa, onde o avião que ele pilotava caiu.

O jovem, então com 25 anos, chegou a ser socorrido e levado para um hospital da região, mas não resistiu, sete dias depois. "O pai estava trabalhando na Bahia. Liguei para ele na hora e, em um dia, ele estava aqui [em Primeiro de Maio]. Ele tinha perdido o melhor amigo. Não tinha mais com quem conversar sobre avião. Sernai, dali para frente, foi outro homem", relata Madalena.

O pai, sempre brincalhão e amoroso, passou a ser flagrado chorando pelos cantos da casa por Flávia. "Ele era um paizão, sempre oferecia o colo que precisávamos, brincava muito. Mas, quando meu irmão morreu, ele sentiu demais. Chorava bastante, ficava quieto. O baque foi muito grande e Sernai deixou de voar".

"Ele estava muito abalado, mas eles [pai e filho] haviam dito um pro outro que, se algo acontecesse, o outro seguiria com a paixão. Por isso, voltou a praticar. Sobrevoava a região em que o Sernaizinho se acidentou para tentar 'achá-lo'. Quando voltava, dizia que sentia a presença dele. Tinha certeza o melhor amigo estava lá", diz Flávia.

O trabalho na lavoura voltou à rotina de Sernai. No começo de março de 2014, no entanto, surgiu nova oportunidade para trabalhar em um avião agrícola de novo. Ele substituria um piloto temporariamente no sudeste do Pará. Depois de 20 dias de trabalho, a tragédia se repetiu: o avião em que ele estava caiu.

"Deus permitiu que eles fizessem o que queriam, do jeito que queriam. Trabalhavam com o que amavam e realizaram o sonho deles. Eu não me culpo e muito menos os culpo. Este era o plano para a vida deles. Eles foram as melhores pessoas que eu poderia ter por perto", consola-se a mãe e viúva. "A saudade vai ser eterna. Perdi meus dois pilares. Tenho certeza que eles estarão sempre aqui, ao meu lado, e nos céus por aí. Infelizmente, é preciso seguir em frente. Os dois voaram", emociona-se Flávia. (Redação G1 PR)

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