segunda-feira, 8 de maio de 2017

ELEIÇÕES Macron derrota tradição e é eleito presidente da França

Emmanuel Macron, 39 anos e quatro meses de idade, é o mais jovem presidente eleito na história da França. Com 71% das urnas apuradas, o candidato do movimento Em Marcha! tem 62,87% dos votos e não será alcançado pela ultranacionalista Marine Le Pen, da Frente Nacional, que tem 37,13%.

No país que inventou esquerda e direita e que costuma apostar na experiência política, um jovem centrista com enxuto currículo na vida pública alcançou uma vitória que representa um duro golpe nos partidos tradicionais, mas também um suspiro de alívio da União Europeia.

Como já havia ficado claro na definição do segundo turno - o primeiro na história sem candidatos socialistas ou conservadores -, a França decidiu investir na mudança, ainda que uma menos drástica e não tão longe do establishment como aquela representada por Le Pen.



Macron, nascido em 21 de dezembro de 1977, em Amiens, no norte do país, coroou uma trajetória meteórica e hábil o suficiente para se descolar do impopular mandato de François Hollande. No comando de uma das maiores potências do planeta, terá de enfrentar uma longa estagnação econômica, a ameaça do terrorismo e o descontentamento dos milhões de eleitores que escolheram o ideário ultranacionalista e eurocético de sua rival.

"Eu não subestimo as dificuldades econômicas, o impasse democrático ou o enfraquecimento moral do país. É minha responsabilidade entender a raiva, a ansiedade, as dúvidas, que uma parte de vocês exprimiu", declarou o presidente eleito em seu primeiro pronunciamento após a vitória, ainda em seu quartel-general, em Paris.

Enquanto isso, milhares de eleitores se reuniam em frente ao Museu do Louvre e levantavam bandeiras da França e da União Europeia. "Uma nova página de nossa história se abre nesta noite, aquela da esperança e da confiança renovadas", acrescentou Macron.

Ele ainda disse que quer "garantir a unidade da nação" e que escutará "todos os franceses". "Lutarei com todas as forças contra a divisão que nos mina. A partir desta noite e pelos próximos cinco anos, terei humildade, dedicação e determinação para servir em seu nome. Viva a República, viva a França", completou.

Há um ano, Macron, ex-executivo do banco Rothschild, sequer aparecia com frequências nas pesquisas. No entanto, com um discurso carismático e repleto de referências filosóficas, conseguiu encantar um eleitorado descontente com a política. O futuro presidente foi ministro das Finanças de Hollande entre 2014 e 2016 e patrocinou uma reforma para flexibilizar as leis trabalhistas, projeto que motivou grandes protestos por todo o país. Em agosto, rompeu com o socialista por discordar dos "dogmas da esquerda", se afastando de um presidente impopular e que sequer tentaria a reeleição.

Nos últimos meses, diversos expoentes do Partido Socialista, como o ex-premier Manuel Valls, declararam apoio a Macron e abandonaram seu candidato, Benoît Hamon, que terminou o primeiro turno em um decepcionante quinto lugar.

O novo chefe de Estado se apresenta como uma terceira via liberal e europeísta e teve ascensão semelhante às de Tony Blair, no Reino Unido, e Matteo Renzi, na Itália, mas em um país que costuma punir nas urnas quem não está de um lado nem do outro.

Seu programa propõe o corte de 120 mil cargos públicos, redução nos gastos de 75 bilhões de euros em cinco anos e um plano de investimentos de 50 bilhões. No âmbito europeu, ele pretende sugerir a criação de um Parlamento para a zona do euro e de uma força de 5 mil guardas para proteger as fronteiras do bloco.

Além disso, Macron quer reduzir a dependência de energia nuclear em 50% até 2025 e dar bônus de 1 mil euros para a compra de veículos menos poluentes. Seu programa ainda prevê a redução do número de parlamentares em um terço, a criação de 10 mil vagas de trabalho para policiais e limitar em seis meses o prazo para análise de solicitações de refúgio.

Essa foi a primeira eleição disputada por Macron, que agora terá o desafio de impulsionar seu movimento, o Em Marcha!, criado há pouco mais de um ano, para as eleições legislativas de 11 e 18 de junho, quando será formada a próxima Assembleia Nacional. Para nomear um primeiro-ministro de sua escolha, o presidente eleito terá de construir uma maioria parlamentar, no provável primeiro grande teste político de seu mandato.

Derrota

Líder durante boa parte da campanha, Le Pen admitiu sua derrota 10 minutos depois do fechamento das urnas. "Telefonei a Macron para parabenizá-lo. Desejei boa sorte nos imensos desafios que ele terá pela frente", disse, acrescentando que os franceses designaram a "aliança patriota e republicana como principal força de oposição ao projeto do novo presidente".

"O primeiro turno endossou o colapso da política francesa tradicional, pela eliminação dos velhos partidos. Esse segundo turno organizou uma recomposição política em torno da separação entre patriotas e globalistas", ressaltou Le Pen, que chamou seu resultado de "histórico".

No quartel-general da Frente Nacional, o clima era de decepção, mas os militantes ainda tentaram mostrar ânimo cantando a "Marselhesa", o hino nacional da França. A primeira medida do partido de extrema direita, já anunciada por seu vice-presidente, Florian Philippot, será mudar de nome para tentar de novo em 2022.

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