quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ATAQUE HOMOFÓBICO Ator é agredido e perde cena em curta-metragem em Londrina

Ator é agredido e perde cena em curta-metragem em LondrinaUm ator foi impedido de gravar cenas para um curta-metragem depois de ser agredido em uma situação de intolerância sexual, no domingo (26), nos arredores do Terminal Urbano de Londrina. O ator Otávio Pelisson foi xingado e levou socos de dois homens que não gostaram de vê-lo maquiado na ruas, a caminho da gravação de um filme no bar Valentino. Ele foi salvo por uma senhora que bateu nos agressores com um guarda-chuva.
Otávio participaria do curta-metragem "Passo Cruzado", escrito e dirigido por Vivian Campos e produzido em parceria com a pós-graduação em Cinema e Documentário da Faculdade Pitágoras. O filme teve cenas gravadas no sábado (25) e domingo e tem gravações também nesta terça (28). Em sua cena, Otávio atuaria como drag queen, mas, no momento das agressões, não utilizava o figurino. Estava maquiado e de unhas postiças. "Eu sempre ando assim, mas, como iria interpretar uma drag queen, a maquiagem estava carregada", conta.

Quando chegava ao terminal, dois homens começaram a ofender Otávio. "Eles fizeram piadinhas, que aquilo 'não era coisa de homem', que era 'pra eu virar macho. Em seguida, me empurraram pelas costas e um deles me agarrou pelo braço, enquanto outro me deu socos na barriga, na costela e no estômago", recorda. No momento, uma senhora socorreu o ator batendo com um guarda-chuva nos agressores, que o deixaram e foram embora como se nada houvesse acontecido. "Foi tudo muito rápido", diz Otávio, que ligou para os pais e foi para casa, sem gravar a cena e sem registrar boletim de ocorrência.


Vivian Campos disse que, por conta deste incidente, a cena de Otávio teve de ser cortada às pressas. Pelo roteiro, uma filha levaria a mãe, com quem vive em conflito, para uma festa com pessoas jovens. "A personagem de Otávio chegaria no bar montada [como drag queen] e provocaria um estranhamento e um encantamento da senhora. Usaríamos a figura dele para fazer essa cena de contraste."

A diretora diz que ficou chocada ao saber do ocorrido com o ator e que apenas alguns elementos, como unhas postiças e maquiagem, foram suficientes para desencadear o preconceito. "A gente escuta [casos de homofobia], mas, quando acontece com alguém que está próximo, é revoltante. É impensável que chegamos em 2017 e esse tipo de intolerância ainda aconteça", disse Vivian.

Otávio não registrou boletim de ocorrência porque teme algum tipo de retaliação dos agressores. O fato de a homofobia ainda não ser crime também aumenta o receio. "O caso seria registrado como uma simples agressão, mas não é isso. Mexeram comigo, disseram para 'virar macho'", recorda a vítima.

Vinícius Bueno, ativista e membro do Fórum LGBT de Londrina e Região, afirma que já sofreu homofobia por parte de um funcionário do terminal central. "Mas embora tenha me ameaçado, não chegou na agressão física. Sou usuário do transporte coletivo e o terminal é uma terra sem lei, ou pior, existe um poder paralelo naquele lugar. Os seguranças são despreparados."

De acordo com Vinícius, quando algum caso como este acontecer, o primeiro passo é procurar um advogado especializado e sensível a causa. O segundo passo é ir à delegacia registrar um boletim de ocorrência. "Após registrar o boletim de ocorrência, encaminhe para o Grupo de Trabalho LGBT do Ministério Público do Paraná (GT LGBT). O caso terá acompanhamento de outros advogados, promotoria, ativistas, OAB, Defensoria Pública, EAJ/UEL e outros defensores dos direitos humanos que atuam na cidade de Londrina e região."

Além disso, o ativista aconselha usar as redes sociais e a imprensa para denunciar o caso. "Paz sem voz é medo! Precisamos dar visibilidade para evitar que outros casos aconteçam. Nosso orgulho não tem prazo de validade." Para Vinícius, os funcionários das empresas do transporte coletivo, da CMTU e os seguranças não estão capacitados para lidar com as diferenças, seja idosos, cadeirantes ou LGBTs.

"É comum ouvir funcionários emitindo opiniões que fazem juízo de valor em relação a essas pessoas que ferem diretamente os direitos humanos, eles conversam entre eles, como se estivessem na mesa de um bar ou outro ambiente de foro íntimo, e o fazem uniformizados e no pleno exercício das suas atividades profissionais. Por exemplo: 'esses idosos não pagam passagem, só enchem o saco' e também 'que vergonha para a família, dois homens se beijando'. Coisas desse tipo! Isso é um absurdo."

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